Um dos jabutis mais comentados da Lei de privatização da Eletrobras (Lei 14.182) foi a contratação de 6 GW de termelétricas a gás natural, longe do centro de carga e, preferencialmente, em lugares que não dispunham de oferta de gás natural. Segundo dados da EPE disponibilizados pelo artigo, sem contar com os gasodutos a reserva de mercado envolvida na contratação representa um custo adicional para a expansão do sistema de R$ 70,3 bilhões e um incremento de 21,2 milhões de toneladas de CO2 eq. O artigo, além de questionar esse e outros jabutis, comenta também o recém-realizado leilão de reserva de capacidade, que tinha como objetivo comercializar 2GW dos 6GW de térmicas, com um mínimo de 70% de inflexibilidade. Segundo o autor, o leilão tinha tudo para ser um fiasco, visto que a oferta já contratada de térmicas a gás natural flexíveis é suficiente para manter um “lastro” seguro para o sistema. E, de fato, foi isso que ocorreu.

O leilão garantiu a comercialização de apenas 3 dos 33 projetos ofertados, sendo marcado por um “vai-e-vem, de pouca clareza, na definição dos municípios que seriam elegíveis para usufruir do regalo legislativo”. Definiu-se ainda no leilão que duas das três termelétricas comercializadas, representando 590,8 MW, serão instaladas no município de Silves, na “boca do poço”, enquanto a terceira, de menor porte, será instalada em Manaus. Detalhe: Silves não consta na Região Metropolitana de Manaus definida na Lei Estadual Complementar 52, de maio de 2007. Ela foi inserida a partir do Decreto 11.0911, no qual a EPE divulgou o informe “Instruções Complementares para o Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Energia de 2022 – Municípios Elegíveis”. No final das contas, o primeiro leilão do jabuti-gás chegou a 753,8 MW de capacidade transacionada, muito aquém dos 2000 MW.

Valor Econômico – Pedro Bara (mestre em Ciências de Gerenciamento em Engenharia pela Universidade de Stanford. Foi diretor de Política Amazônica do WWF nos Estados Unidos)

Link de acesso:

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/o-jabuti-eletrico-deu-cria-na-amazonia.ghtml

 

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