O objetivo do artigo é explicitar a necessidade de uma mudança de fundo na atuação das instituições financeiras para que seja viabilizada a transição verde e sustentável. Destaca-se inicialmente que, para viabilizar a dificílima tarefa da transição, “as mudanças devem ser drásticas e imediatas – o que apenas acontece quando a sociedade como um todo atua em consonância, em busca de um mesmo objetivo. Reverter a crise climática precisa da atuação conjunta dos Estados Nacionais e da mobilização de instrumentos com a missão de promover a transição verde sustentável”. Com efeito, a transição engloba “um processo de mudança estrutural que irá reorientar os ativos no planeta inteiro, uma vez que será necessário mudar drasticamente a estrutura produtiva com potencial de afetar drasticamente a economia e os sistemas financeiros”. Na sequência, os autores apontam que financiar essa mudança exige uma nova estrutura financeira, pois a lógica financeirizada e curto-prazista que tomou o sistema financeiro na era da globalização é incompatível com aquele objetivo.
Quais seriam, então, alguns passos necessários na construção dessa nova estrutura financeira? Primeiramente, a reformulação do papel dos bancos centrais desempenhará um papel essencial. Dentro de um novo compromisso, os bancos centrais deverão agir como resgatadores climáticos de última instância dada a dificílima tarefa de reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 A respeito da atuação dos bancos centrais os autores ainda lembram que “se o papel dos BCs foi definido por uma sequência de crises ao longo da história, e como não há crise maior do que a crise climática, nada mais natural que essas instituições alterem suas missões a fim de incorporar, de modo efetivo (,,,), a garantia do financiamento da transição verde sustentável e da estabilidade do sistema financeiro frente a esse processo.” Para tanto, será necessária a mobilização de outras instituições públicas e privadas, notadamente de bancos de desenvolvimento. Por exemplo, no processo de transição verde sustentável, os BCs podem implementar uma política de “Transição Quantitativa Verde”, ou seja, um programa de compras de green bonds, emitidos pelos bancos de desenvolvimento. Além disso, os bancos centrais também deveriam apoiar outras instituições financeiras por meio da compra de ativos depreciados em virtude da rápida mudança climática, com a condição de que os recursos dos pacotes de resgate sejam direcionados para o financiamento de projetos de sustentabilidade ambiental ou indústrias verdes. Por fim, os autores sublinham que, “sem prejuízo das medidas de apoio condicionado voltadas às instituições privadas, a “Transição Quantitativa Verde” deve ser encarada, principalmente, como um instrumento vital para a mobilização de recursos pelos bancos de desenvolvimento. Ao assumirem a missão de financiar a transição verde, os bancos de desenvolvimento enfrentarão o duplo desafio da capitalização e da disponibilidade de recursos. A ausência de política e coordenação do Estado nacional inibiria sensivelmente o financiamento da transição verde sustentável por esses entes.”
Carta Capital – Fernanda Feil (economista, pesquisadora do Finde), Carmen Feijó (professora titular na UFF e coordenadora do Finde), Carlos Henrique Horn (professor da UFRGS)
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