Neste excelente artigo, Pietro Erber discute a lógica da operação e do planejamento do sistema elétrico brasileiro e seus dilemas, ressaltando sobretudo a necessidade de reavaliação da garantia física das hidrelétricas dados os grandes problemas que a sobreavaliação dessa “energia garantida” acarreta. Inicialmente citando artigos recentes que criticam os programas computacionais utilizados pelo setor elétrico em seu planejamento e na sua operação, o autor afirma que o problema está mais nos parâmetros do que na estrutura desses programas – por mais que estes possam ser aperfeiçoados. Na sequência, ele esclarece as relações que existem entre a valoração da água, o deplecionamento dos reservatórios e a geração termelétrica para depois ressaltar que um dos maiores problemas do setor hoje está no fato das garantias físicas das usinas hidrelétricas estarem, há anos, sobreavaliadas. Com as garantias físicas sobreavaliadas, reduz-se a percepção da necessidade de aumentar a oferta e a expectativa de geração termelétrica diminui. Com isso, justifica-se a contratação de termelétricas mais caras, pois a probabilidade de acioná-las é baixa. Entretanto, por utilizarem combustível caro, a geração das térmicas é frequentemente substituída pela hidrelétrica, deplecionando os reservatórios. O autor aponta ainda que a revisão das “energias garantidas” não será tarefa fácil porque sua redução fere interesses privados na medida em que reduz a energia disponível para comercialização. Será fundamental, portanto, a coordenação e o envolvimento do poder público nesse ponto.
Valor Econômico – Pietro Erber (Conselheiro do INEE e ex-membro do conselho de administração da Eletrobrás (2000 a 2003))
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/suprimento-eletrico-em-crise.ghtml